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terça-feira, 28 de abril de 2009

Uma questão de moderação

Os gregos antigos acreditavam que o melhor caminho para a virtude é a moderação, sophrosyne, como eles próprios designavam a arte da prudência. A despeito de se concordar ou não com essa visão, é notório observar que a imprensa esportiva no Brasil sofre de total falta de moderação.
Ronaldo é assunto, mais uma vez (que novidade!), até aqui, no espaço de um palmeirense. Pois bem, o chamado "fenômeno", após brilhar no primeiro jogo das finais contra o inofensivo Santos, é mais do que nunca comentado nos programas futebolísticos. Seu nome é citado numa proporção infinitamente maior do que o do próprio time onde joga, sintoma de que talvez sua figura seja menos benéfica para a agremiação do que tudo indica. Quem sabe o leitor possa compreender?
Ninguém que entenda minimamente de futebol, jamais colocou em questão a capacidade técnica do jogador, o que se discutia era sua péssima condição física, sobretudo em tempos nos quais o preparo tem contado mais do que a técnica. Pode ser que por isso mesmo ele se sobressaia, isto é, lhe sobra condição técnica. A verdade é que ele tem surpreendido, jogado muito mais do que dele se esperava. Seu nome é cantado em prosa e verso, é quase unanimidade entre os comentaristas que sua volta por cima já está totalmente consumada e cogita-se até mesmo a volta de Ronaldo à anódina seleção brasileira. Muitos dos que hoje se rendem ao futebol do "fenômeno", são exatamente os mesmos que já o deram como acabado em mais de uma ocasião. Nada de estranho em opiniões que variem tanto entre os extremos, afinal, a sophrosyne não é apanágio da imprensa esportiva brasileira. Ponderemos!
Ronaldo foi muitíssimo bem assessorado em sua volta ao futebol brasileiro, pois na Europa, diante de adversários bem mais qualificados, zagueiros de mais renome e jogo que exige mais do físico, ele teria dificuldades em grau enormemente mais elevado. Jogar num futebol de baixo nível técnico, permitindo-lhe angariar destaque em meio à mediocridade, sem dúvida alguma, trouxe novamente ao jogador o status que procurava há uns bons anos. Some-se a isso o fato de ter escolhido um time de massa e claramente protegido pela mídia, ressaltando que a escolha não foi o Flamengo devido aos riscos salariais que o clube carioca oferece, além do que o futebol paulista é muito mais vitrine.
Todavia, é preciso que os próprios torcedores mosqueteiros tenham em mente que o horizonte vindouro possa não ser tão aprazível como as aparências, traiçoeiras, sugerem. A temporada ainda não chegou nem em sua metade, o estadual não apresenta dificuldades consideráveis, sendo que o "bicho" começa a pegar de verdade no afunilamento da Copa do Brasil e, principalmente, durante o longo e exaustivo Brasileiro. Os obstáculos irão aumentar bastante no caminho de Ronaldo, quanto mais se não for esquecida sua condição física deficiente, algo do qual o jogador não irá mais escapar. Ele pode mais uma vez calar a boca dos descrentes? Sim, é claro! Por outro lado, se eventualmente for pêgo numa situação tal que não consiga render e manter sequência de jogos em uma competição com maior nível de exigência, ele poderá debandar.
É óbvia a constatação de que quanto mais exposto na mídia, mais estará o "fenômeno" a atiçar a sanha dos promoters e empresários do futebol. Nesse sentido, ligas como a norteamericana ou a japonesa funcionariam como destinos atraentes para Ronaldo. Se ainda existe algum iludido com o discurso batido do "amo esse clube", que não se engane mais, nos EUA ou no Japão, o jogador engordaria ainda mais sua conta bancária e jogaria brincando contra beques de mentirinha. Fica a pergunta, o que seria do time da zona Leste sem o seu astro do momento? Manteria o relativo sucesso que não tinha há tempos?
Tudo é um questão de moderação.

* O texto acima é dedicado ao aluno e corintiano Lucivaldo Junior.

domingo, 26 de abril de 2009

Garçom! Por favor, uma porção de ética...

Dia desses, sem querer, encontrei na Internet o texto de um ex-professor meu da graduação de História, comentando sobre o filme Tropa de Elite. Eu sempre mantive para com ele uma divergência intelectual absoluta e, em relação ao texto em questão, nada mudou. Esse professor é adepto da nova (nem tanto assim) moda da esquerda acadêmica, o pós modernismo, cujos principais autores que servem como referência são Nietzsche, Walter Benjamin, Theodore Adorno, Michel Foucault, Jacques Derrida, entre outros. A ideia principal que norteia a lógica pós moderna é a de que todas as relações sociais são moldadas pela busca do poder, daí ser papel do intelectual atuar como um desconstrutor dos sistemas de poder estabelecidos pelos grupos que dominam a sociedade. Pensadores do porte de Karl Popper, Bertrand Russell, Carlo Ginzburg e Steven Pinker são apenas alguns que já mostraram porque o pós modernismo é frágil e falacioso.
O objetivo aqui é discutir tão somente uma expressão utilizada pelo meu ex-professor em seu texto que, em suas implicações morais, revela a absoluta inconsistência do esquerdismo revisitado pelos seguidores de Nietzsche. Logo no início da reflexão, ao criticar a postura do Capitão Nascimento, personagem principal de Tropa de Elite, meu ex-professor afirma que ele é um obcecado pela ética, querendo dizer com isso que o comandante do BOPE é um câncer, fruto do atual sistema.
Para todo pesandor pós moderno, como não é de se estranhar em quem segue a filosofia nietzscheana, a ética não é nada além de uma mera convenção criada para atender os interesses dos dominadores, uma ética burguesa, como é comum dizer, o que denota que o pós modernismo, mais do que pensam seus próprios arautos, bebe na água podre da fonte marxista. Assim sendo, a ética não pode ser pensada sem uma historicidade, perdendo portanto seu valor como princípio fundamental da humanidade. Seguindo-se esse paradigma, não é possível admitir a existência de nenhum valor universal, deve-se obrigatoriamente crer que não existe uma natureza humana, nem sequer quanto aos sistemas de cognição do Homem, claramente diferentes dos demais animais. E assim Spinoza se contorce no túmulo!
Como alguém pode ser obcecado pela ética? Essa expressão pressupõe que possa haver diferentes graus de ética ou, pior ainda, abre a possibilidade de que em certos casos a ética deve estar presente, em outros não! Conhecendo um pouco sobre o pensamento pós moderno, é mais fácil acreditar que jamais se deve adotar ética alguma! Não são eles que dizem ser a ética uma convenção burguesa?! A essa altura, já deve estar claro o absurdo moral provocado pelo pós modernismo, mas isso não convence seus seguidores, afinal a moral só vale em um contexto específico. Seria então de se perguntar qual é a moral pós moderna, pois se toda a moral é condicionada por interesses, estariam em jogo as próprias conveniências dos pós modernos.
O cerne da questão é que o esquerdismo das rodinhas acadêmicas nunca primou pela lógica e pela qualidade da argumentação, nem poderia, pois todo discurso é um discurso de poder. Trocando em miúdos, ou se tem ética, ou não se tem, não é possível ter quantidades de ética, muito menos escolher se uma ação demanda ética ou não. A ética é um princípio, um valor universal, por isso torna-se fácil observar que as mentes que fizeram algo em benefício da humanidade foram possuidoras de sólidos e convictos princípios éticos.
Aprendi muito com meu ex-professor, fui incitado a ler os pós modernos e arrumar artifícios teóricos para refutá-los. Reafirmei meus princípios éticos e aprendi com mais ênfase ainda que jamais se abandona a ética. Um pós moderno tem um valor inestimável, a saber, que você deve se opor a ele ferrenhamente, o que fica tão mais claro quanto mais se tem contato com seu modo de pensar.
Garçom! É para o meu amigo pós moderno!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Campeonato Paulista 2009

Restam as duas partidas finais para encerrar o certame estadual do ano de 2009. Final alvinegra, ausente de cores, embora não se possa negar que Santos e o time da zona Leste tenham alcançado o feito de maneira meritória. Por outro lado, também é verdade que os adversários dos finalistas nas semifinais proporcionaram um show de incompetência que torturou torcedores alviverdes e tricolores.
O Palmeiras é um clube completamente perdido em sua administração, desde a saída da Parmalat, ocorrida já há quase dez anos. Nesse interím, Mustafá corroeu as estruturas da SEP tal qual um cupim destrói madeira compulsivamente. Só restou o pó! Veio o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, homem de grande reputação, mas com o qual, particularmente, jamais compartilhei ideias. Não aprovo sua ideologia, nem seu modo de agir, não gosto da revista onde ele escreve e não creio que seu jeito manso e leniente seja o que o Palmeiras precisa nesse momento.
A primeira prova de equívoco por parte do novo presidente foi manter o atual técnico após a eliminação vergonhosa no Paulista. Luxemburgo inclusive, é tão nefasto para a agremiação esmeraldina, quanto foi Mustafá. Luxemburgo é prepotente, vive alardeando suas próprias conquistas, mesmo que não ganhe nada de grande vulto já há 5 anos. Luxemburgo não estuda os adversários, não arma um sistema defensivo consistente, coisa que todo treinador sério começa fazendo quando chega para dirigir um time, dada a ausência de craques nos dias de hoje, não define um esquema padrão, não consegue mais, como fazia antes, extrair o máximo de cada jogador. Luxemburgo é desagregador, cria panelas dentro do elenco, protege seus indicados, jogadores de qualidade extremamente duvidosa e não apoia os pratas da casa. Só pode resultar nisso, técnico decadente e ultrapassado! O Palmeiras precisa de um técnico de verdade, urgentemente, mais até do que isso, precisa de diretores novos, com ideias novas, gente que acabe com o regime feudal que ainda impera nas alamedas do Palestra Itália. Só assim para o gigante despertar de seu sono profundo! San Genaro, olhai por nós!
Quanto ao time do Jardim Leonor, mais uma vez mostrou apatia e desinteresse diante de seu nem tão rival de Itaquera. Aliás, na minha opinião, esses dois clubes nunca foram rivais (quem não se lembra da vitória do alvinegro no Brasileiro de 2007, quando lutava contra o rebaixamento, em um jogo no qual o SPFC andou em campo?!). O time da zona Sul não fez a menor questão de vencer o adversário nas semifinais, não impôs a mínima resistência. Não que eu não deva admitir que o técnico que tem "mano" até no nome (tudo a ver com o time que dirige) não seja sério e tenha lá sua competência, melhor do que o Luxemburgo, ele é, mil vezes, mas que os leonores não jogaram nada, é um estranho fato!
Resta ter um mínimo fio de esperança para que o sempre insosso time da baixada possa operar um milagre. O Santos sofre de falta de tônus, tirando a época de Pelé e em parte a era Diego-Robinho, sempre foi um time fraco, sem carisma e isso acaba pesando negativamente. Time por time, nome por nome, creio até que sejam melhores que o adversário da final que, como já destaquei, deve o feito de finalista quase que 100% a seu treinador, - que foi capaz de montar um esquema eficiente - mas é nítido que falta algo para o alvinegro praiano. Além de tudo, nada pode me tirar da cabeça o fato de que há interesses em fazer campeão o time de Itaquera.
Só sei de uma coisa, serei Santos desde pequeno, afinal, o mal não pode triunfar e o SCCP nunca foi nada além da figuração mais perfeita do Mal! Vamos aguardar...

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Questão de profissionalismo

Muito se discutiu nos últimos dias sobre os acontecimentos que se sucederam com o jogador Adriano, da Inter de Milão. Em um programa do tipo mesa redonda na ESPN Brasil, o sempre impetuoso jornalista José Trajano, afirmou "estar ao lado" do jogador, uma vez que ele mostrou coragem em resolver "dar um tempo no futebol", além do que agiu totalmente de acordo com o que lhe é de direito. Ora, isso não se discute, não é essa a questão.
Adriano convocou a imprensa para uma entrevista coletiva, expôs seus motivos,... depois de cinco dias sumido. Foi um verdadeiro misanscene, um exemplo desses falsos espetáculos que estão mais para reality show do que qualquer outra coisa, típicos do mundo de hoje. Particularmente, não estou nada interessado nos problemas do jogador, satisfações, ele devia diretamente à Inter, clube que paga seu salário (em Euros!) e que espera do mesmo, compensação dentro de campo. É bom lembrar que Adriano nunca jogou nada, a não ser durante a Copa das Confederações em 2005.
Se o jogador sofre na Europa (quisera eu sofrer no Velho Mundo, mil vezes melhor do que sofrer na sala de aula), se tem depressão ou outros problemas afins, ele precisa de tratamento médico e psicológico, algo que deveria ter procurado a partir do seu clube. É paradoxal alguém que sofre do mal citado ir procurar consolo em um morro carioca,e nem se coloca no ar a dúvida do que ele lá teria feito, pois até agora, pelo menos, não há provas.
O fato é que Adriano faltou totalmente com o profissionalismo e qualquer trabalhador atuando em uma empresa, se fizesse o mesmo que o jogador, teria sido, muito provavelmente, posto no olho da rua por justa causa.
Chega de alisar a cabecinha de jogador de futebol, um profissional como outro qualquer, situação inclusive que é trazida à tona pela própria classe e por muito jornalista esportivo quando isso é conveniente, mas estranhamente esquecida nas ocasiões em que os boleiros pisam na pelota. Adriano errou porque mandou o profissionalismo às favas, uma vez mais em sua carreira, independentemente da coragem que possa ter tido (fácil ter coragem de abandonar o emprego quando se tem a vida financeiramente resolvida), dos problemas que porventura ele tenha ou pelo direito que lhe é devido.

*PS: a propósito, na partida do último domingo contra o São Paulo, Ronaldo, outro alisadinho, cometeu uma entrada criminosa no adversário, digna de expulsão, algo que não aconteceu; se fosse um becão qualquer, o cara seria tachado de açougueiro para baixo; dois pesos, duas medidas...

terça-feira, 7 de abril de 2009

A ciência que destrói lendas


Todos aqueles que são favoráveis à liberdade, seja ela política, econômica ou filósofico-intelectual, devem sempre estar se perguntando porque a ciência, em todas as épocas, teve que lutar e continua lutando contra tantos detratores. Uma das respostas não é tão difícil de ser encontrada como possa aparentar num primeiro instante e, obviamente, o que irei escrever trata apenas de um dos âmbitos da questão, e nem de longe tem a pretensão de encerrá-la.
Hoje torna-se banal a observação de que já houve quem duvidasse das descobertas de Copérnico e Galileu, e não foram poucos, ou quem demonizasse as vacinas e a pasteurização do leite, que tantas doenças evitam. Outros exemplos poderiam ser mencionados aos borbotões! Nada banal, no entanto, é a constatação de que em pleno século XXI, inúmeras pessoas, dentre elas inclusive, muitos filósofos e outras pessoas de bagagem cultural significativa, vejam com péssimo olhar, as pesquisas com células tronco, o aborto para casos de estupro e anencefalia ou algo mais simples, como os alimentos geneticamente modificados e, quem diria, até mesmo uma descoberta científica tão acertada como o evolucionismo de Darwin, isso para citar apenas alguns casos.
A repulsa a alguns exemplos acima tem raiz na religiosidade católica, anti-histórica, anti-científica e anti-progressista. A isso se deve a contínua diminuição do número de fiéis católicos mundo afora, já que cada vez mais o catolicismo perde capacidade de explicar a contemporaneidade. O mais recente caso polêmico envolvendo a Igreja de Roma ocorreu no Recife, quando uma equipe médica que executou aborto de gêmeos em uma criança de 9 anos, vítima de estupro, foi excomungada pelo arcebispo local. A crença essencialista que credita o mesmo valor vital a embriões e pessoas humanas dotadas de consciência tem claros equívocos morais e só pode acarretar na cegueira em relação às nefastas consequências que poderiam advir da não realização do aborto em casos como esse. O dogma católico desconsidera a tragédia psicológica fruto do estupro, os prejuízos à vida e à saúde de uma mãe de 9 anos e o futuro comprometido de crianças nascidas de uma tal situação.
É evidente que a Igreja tem de fechar os olhos para a história, pois isso implicaria na sua autocondenação, sendo assim, os progressos históricos da biologia abalam fortemente os alicerces do catolicismo, não causando surpresa a aversão aos mesmos.
Outro foco de demonização da ciência, laico, ao invés de religioso, é a ideologia de esquerda, tanto em sua tradicional versão marxista, quanto no revisionismo relativista pós-moderno.
A ciência é necessariamente aberta e sujeita à novas descobertas, o que põe em xeque doutrinas finalistas e fechadas como o marxismo. A ciência sempre está a desmentir ideologias que julgam possuir as "chaves" da história e que, por consequência, perseguem e eliminam possíveis "inimigos" da causa. A ciência liberta, o marxismo, por ser fundamentalmente autoritário, aprisiona. No campo da ciência econômica, economistas têm refutado de modo amplamente convincente a "falácia física", que atribui valor intrínseco a qualquer objeto material, independentemente da época. Parece trivial, mas o que regula a economia é a lei da oferta e da procura. Isso funciona como um tiro certeiro na pedra de toque do marxismo! Marx jamais passou de um mero positivista, conferia a si próprio ar científico, mas é cada vez mais tornado obsoleto e inconsistente pela verdadeira ciência.
No que se refere ao relativismo pós-moderno, a ciência bate de frente com tal visão ao preservar o princípio do certo e do errado, inerente a ela própria e de extrema importância para que os princípios de conduta humana e de valoração da liberdade possam vigorar. O obscurantismo relativista está intimamente ligado com a negação da democracia, único sistema político no qual a ciência pode prosperar. Nesse sentido, áreas da ciência moderna, tais quais o cognitivismo e a psicologia evolucionista, têm sido pródigas em pulverizar o misticismo tolo da teoria do bom selvagem e do culturalismo. A tábula rasa relativista e, junto com ela, a defesa da sociologia comportamental, afundam rapidamente no lodo da ignorância.
A ciência sempre terá pela frente batalhas contra aqueles cujas crenças ela desmantela impiedosamente, justamente por representar um perigo a quem julga possuir respostas prontas para tudo. Em regimes políticos livres, sempre vencerá, pois joga ao lado da busca honesta pela verdade, sem rabo preso com ideologias autoritárias e doutrinas dogmáticas.