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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Marcha dos insensatos


A marcha da maconha, manifestação de rua em defesa da legalização da erva, parou várias ruas de São Paulo no último sábado, dia 21/05. O ato, por força de seu próprio despropósito, havia sido proibido segundo determinação judicial, mesmo assim os manifestantes deram de ombros para a lei e realizaram o protesto. Estranho paradoxo que os adeptos da legalização tenham desprezado a ordem da Justiça ao mesmo tempo que se revoltam a favor de algo a ser legalizado. Gente que desconhece a função e o funcionamento das leis da sociedade, mas que no entanto pede uma lei que lhe seja conveniente.
O absurdo de quem opera na ilegalidade querendo legalizar algo despropositado, por si só já fez perder a razão dos envolvidos. Seria desnecessário frisar, em se tratando dessas pessoas, que existem caminhos institucionais para que opiniões sejam manifestadas e debatidas e para que se proponham leis, contudo, não é possível falar em lei quando se passa por cima delas. Isso já bastaria para encerrarmos a discussão, mas afinal, qual motivo haveria para que a maconha fôsse legalizada? Acabar com o tráfico? Mesmo que houvesse possibilidade disso, acabar com tráfico de maconha? E a cocaína, o crack, o ecstasy, as drogas novas de laboratório, muito mais pesadas? Então, teriam que ser legalizadas também. Puro caos! A maconha faz bem à saúde? Não, muito pelo contrário, só faz mal, a menos que ministrada em dosagens específicas, em casos igualmente específicos e sob o acompanhamento de um médico, o que ainda requer comprovação científica, e que evidentemente não é o caso de quem esteja pedindo a legalização. E os terríveis transtornos que a erva causa à família de um viciado? E os custos do tratamento? A maconha não vicia? Não, e os dados comprovando que em grande parcela dos casos ela é o primeiro degrau na escalada para o uso de outras drogas de efeito alucinógeno mais acentuado? Não existe nenhuma justificativa lógico-racional para que a maconha seja legalizada, só restando apenas o infame resquício e a ilusão da contracultura dos anos 1960-70, ao acreditar que drogas possam conter algo de positivo. Balela, lixo. Só os insensatos defendem a legalização.
O cigarro e as bebidas alcoólicas são drogas legalizadas e, apesar de serem proibidas para menores de 18 anos, é sabido que praticamente ninguém respeita tal determinação (respeito às leis?; no Brasil?...).  No caso do tabaco, há até cerca de 20 anos, era vinculado em propagandas de todos os tipos de mídia, associado ao esporte, à aventura, à independência e ao poder. Marketing absolutamente falso e nefasto. Vitória do anti-tabagismo, as propagandas relativas ao tabaco foram abolidas, todavia o fumo vem fazendo adeptos em idade cada vez mais jovem, efeito, pode-se supor, de uma certa visão relativista, condescendente e permissiva sobre as drogas. Bem pior com relação ao álcool, não só legal, mas socialmente aceito, mais do que nunca, hoje em dia, como o era o cigarro em tempos passados, associado aos mais diversos fatores positivos. Quem já parou para pensar minimamente nas propagandas de cerveja entende bem o que é isso: praia, sol, calor, sorrisos, felicidade, agito, mulheres e seus traseiros, rapazes fortes. Cérebro? Bem, aí já é outro papo... É claro que não se mostra o day after da bebedeira: vômito, ressaca, coma alcoólico, brigas, acidentes de trânsito. Problema social: onde estão os “jovens politizados” que tanto adoram essa adjetivação - S O C I A L? Bêbados? Beba com moderação? Use drogas com moderação? Aonde isso vai parar?! Já se tem muita droga legalizada, tudo que não se precisa, é uma a mais. Só os insensatos pensam o contrário.
Quantos dos envolvidos na marcha da insensatez são pessoas cujas vidas estão de alguma forma ligadas com estudos em Humanidades? Um bom número, pode-se imaginar, se bem que aquele sujeito que se mobiliza pedindo legalização de maconha não é bem o que adentra num curso de Humanas com o objetivo de estudar, pois esse costuma se ocupar de assuntos pertinentes e sérios. Quantas páginas de um Irving Babbitt consegue digerir um partícipe dessa marcha? Nenhuma, nenhuma sequer, não há dúvida! Eric Weil? Plutarco? Melhor parar... Quantos dos manifestantes em prol da maconha são os mesmos que não podem nem ouvir falar na possibilidade da presença de policiais - mesmo com toda criminalidade que ali tem grassado - no interior da Cidade Universitária? Pessoal das Humanidades, não só delas, é claro, mas especialmente para quem é gravíssimo a incapacidade de historicizar. Pensam que ainda estamos nos anos de chumbo. Gente fisgada pelos ideologismos e pelas armadilhas da temporalidade. Gente que se tornou de “esquerda” acreditando que essa mesma “esquerda” combatia as ditaduras. Que bobagem, que incapacidade de visão histórico-política! Polícia serve para reprimir, diria um leitor de Foucault, decisionista ególatra e insano, apóstolo de tantos “neoesquerdófilos politizados".
Isso mesmo, serve para reprimir os insensatos, que além do despropósito da causa em questão, adotam um tipo de ato cujos efeitos mais claros são o caos e o prejuízo da circulação das outras pessoas em uma cidade que já não prima pela facilidade de locomoção dos seus habitantes. Esse mesmo pessoal, que faz pose para falar de liberdade, acreditando que ser livre é fazer o que se bem entende. Ah, o elemento centrípeto da liberdade, esse frein vital das sociedades desenvolvidas, essa centelha tão fugaz, esse bálsamo do verdadeiro livre-pensar e do humanismo, esse conceito ausente dentre as mentes da libertinagem, terreno fértil para o vicejar do mais sanguinário estado de natureza hobbesiano. Quem quer a legalização da maconha? Só os insensatos.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Um exemplo. Uma homenagem.

Uma aluna minha faleceu após complicações resultantes de uma cirurgia cardíaca. Ela nasceu com um defeito congênito no coração e, de tempos em tempos, era necessário trocar uma válvula artificial que lhe passou a ser implantada desde os primeiros meses de vida. Seria a última troca, mas infelizmente ela não resistiu e o problema abreviou sua vida na tenra idade de 14 para 15 anos.
Chamava-se Daniela, para quem eu lecionava já há três anos. Ela não era uma aluna de desempenho brilhante, tinha muitas dificuldades e logo pude perceber que carregava uma carência de conteúdos fruto da má qualidade quase geral da educação brasileira. Tal quadro, no entanto, nunca importou. Nesse tempo todo como seu professor, jamais a presenciei reclamando dos deveres, fazendo corpo mole ou negando esforço em alguma atividade, muito pelo contrário, sempre se revelou uma aluna comprometida e participativa. Não foi surpresa para mim observar toda sua vontade e entrega pessoal quando de uma Feira de Ciências no ano de 2009, momento no qual eu era coordenador da classe onde ela estudava. O tema do evento foi o corpo humano e a Daniela mostrou um vívido interesse em dar explicações sobre o funcionamento do coração, parte que lhe coube na exposição. Ela tirou de letra! Invariavelmente, estava envolvida nos assuntos escolares, gostava dos desafios.
Certamente a Daniela tinha seus momentos de "encheção", sem dúvida, sentia cansaço muito mais do que os outros em vista de seu problema, contudo, para ela, a superação e a obtenção de realizações se manifestavam como prova de sua capacidade, de seu esforço e de sua aptidão intelectual, mesmo com as dificuldades que tinha e com a própria saúde debilitada. Sempre foi gratificante e gerador de emoção ver com que vontade e dedicação ela cumpria suas tarefas. Gratificante para os professores, mais ainda para ela, que aprendeu com as agruras da vida, a dar valor às oportunidades. É lamentável que muitas pessoas com a saúde em dia mal se habilitem a levantar um dedo quando são exigidas.
Fica o exemplo, fica a homenagem. Daniela, descanse em paz.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O fascínio do número 100: um balanço geral


Apesar de acreditar que muitas coisas que envolvem números sejam sem importância na maioria dos casos, exceto quando se trata de estatísticas bem fundamentadas, não posso negar que o fascínio exercido pelo número 100 vá além de numerologia esotérica. O 100 sempre é invocado quando, vira e mexe, são feitas essas tais listas dos "100 mais", independente se for para eleger os 100 melhores guitarristas, os 100 melhores jogadores de futebol, as 100 cidades mais bonitas do mundo, ou os 100 piores sejá lá o que for..., os exemplos são infindáveis e, invariavelmente, cada lista dos "100 mais" é geradora de polêmica: muitos acreditam que algo ou alguém não deveria fazer parte da listagem ou, mais ainda, que algum injustiçado foi deixado de fora. Creio que essas listas não passam de inutilidades, feitas exatamente e apenas para instaurar polêmicas indissolúveis.
O número 100 também marca presença constante no esporte: nesse famigerado Campeonato Paulista que se encerrou ontem, com o título merecidamente nas mãos do time praiano e com o vice tendo ido para a equipe sem cores da Marginal Tietê, o lobbista Rogério Ceni marcou seu centésimo gol contra esses mesmos que terminaram em segundo lugar. A propósito, já que estamos abordando a ideia do fascínio pelo cem, o presidente da agremiação incolor havia dito que o ano do Centenário só estaria findado no dia 01/09/2011 e que, portanto, o time ainda poderia faturar algum título em sua centúria. Com o vice de ontem, agora é definitivo, o "cemternada" está mais do que confirmado, já que o próximo título em disputa só se decidirá em dezembro. Cem anos sem estádio, cem anos sem Libertadores, cem anos completados sem presente de aniversário. Que não me levem a mal os torcedores incolores, mas a megalomania do clube em questão, patrocinada midiaticamente, esbarra na própria realidade de um time provinciano.
Ainda no esporte, terreno tão fértil para o vicejar dessas mitologias em torno do 100, um time de futebol sempre se torna notícia quando atinge a marca de cem gols num torneio, o que de fato, não é algo comum, que o diga o Palmeiras de 1996... E quando um jogador disputa seu centésimo jogo, ou quando um lutador participa de seu centésimo combate, ou ainda quando um piloto corre seu centésimo GP? Sempre, tais fatos geram certo destaque, maior ou menor variando em função de inúmeros fatores, mas sempre o 100 se torna notícia.
O campo político, como não poderia deixar de ser, igualmente encontra seus julgamentos no número 100. Quando um chefe de Estado chega ao poder, costuma-se afirmar que os primeiros 100 dias de seu governo servem como amostragem do que já foi feito e do que poderá ser o futuro de sua gestão. Dilma Rousseff completou sua centúria no mês passado. Nada escrevi sobre o assunto, pois confesso que a presidente ainda não me deixou claro a que veio. Quem sabe eu não resolva tratar da governança dilmista no momento em que ela completar 200 dias no cargo? 200 = 100 + 100.
O número 100 transmite uma sensação de completude, de etapa cumprida, 100 é a quantidade de anos de um século e eu, que sou historiador, sei bem como é isso: lembro-me da Profa. Maria Auxiliadora Dias Guzzo em meu tempo de graduação, falando em tom grave com os alunos do 2° semestre na disciplina Brasil I que, "historiador não precisa decorar ano, mas jamais pode errar século"; um pouco antes disso, ainda no 1° semestre em Antiga I, o Prof. Ettore Quaranta indicava a leitura de um livro didático para que seus pupilos, muitos deles recém-saídos do Ensino Médio, não se esquecessem as balizas temporais que marcam os períodos da história da Grécia em termos de séculos. Séculos, marcas emblemáticas das artimanhas de Cronos. 
Curvemo-nos, é o que nos resta, diante do 100: eis que este Aristaire que vos "fala" chega a seu centésimo artigo, fazendo com que o número mereça, por força da tradição, mais do que por qualquer outro motivo, um balanço geral, afinal, que número poderia ser mais adequado para isso do que ele, o incansável 100?! Desde que foi concebido, há 2 anos e 3 meses, foram 100 artigos, média de 3,7 redigidos a cada mês. Olhando como autor, presumo que o tom das ideias aqui discutidas desde fevereiro/2009 tenha sofrido uma certa mudança. Em outras palavras, acredito que o blog passou a ser um pouco mais sóbrio, se não sempre, na maior parte das vezes.
Analisando as estatísticas, algo que faço quase que diariamente, já que além de considerar uma ferramenta muito interessante, gera curiosidade saber o que está sendo lido e quantas visitas o espaço teve no dia, na semana, no mês, é possível delinear algumas impressões. Atualmente, o blog conta com cerca de 850 visitas/mês, o que resulta em uma média de 28,33/dia. Ainda é pouco em termos relativos, mas creio que os números subam com o tempo, além do que, antes qualidade do que quantidade.
Os artigos mais lidos, que passaram a constar do lado esquerdo da página, são justamente fruto das consultas nas estatísticas. Essa observação gera surpresas, satisfações e algumas frustrações. Quando escrevi O Iluminismo e a pós-modernidade, apesar de considerá-lo um bom texto, não esperava que alcançasse marca tão significativa (hoje, conta com 800 visualizações, disparado o artigo mais lido). Não me faz estranhar, por outro lado, que muitos dos relatos de viagem estejam entre os mais lidos, já que são de leitura fácil e prestam informação. Já quanto a O preconceito linguístico no Brasil, me surpreende a estatística, uma vez que tem sido bem mais buscado do que eu pensava. Artigos com teor mais provocativo e humorístico, tais como No ano do "cemternada" incolor, o Octa palestrino, igualmente avançam rápido para a condição de mais procurados, assim como os dois que versam sobre músicas essenciais, que são bem palatáveis (nisso, inclusive, um mea culpa, pois são dois textos baseados em listas de "melhores"). Fico bastante satisfeito ao notar que, mesmo sem estarem entre os mais lidos, Alexis de Tocqueville: as múltiplas dimensões da história e a questão da igualdade ou As origens do Brasil e o cretinismo da busca pela identidade nacional, foram até hoje alvo de boa quantidade de leituras.  A parte de frustração vem quando artigos que considero excelentes deixam de receber devida atenção; penso, por exemplo, em A razão como produto da História, Apologia da razão, Sobre o individualismo e o egoísmo ou O povo em catarse: um dos efeitos da cordialidade no Brasil das massas. Exceto pelo último, são textos mais densos, o que talvez explique a baixa audiência. Quanto aos comentários, ainda os considero quase ínfimos, ao mesmo passo que somente aprovo e valorizo, evidentemente, aqueles que são construtivos.
De modo geral, o Aristaire funciona pare este autor como espaço sem o qual seria certamente bem mais complicado refletir e expor a respeito dos temas que costumo tratar. Um espaço para a crítica, para a indignação e para discussões, por vezes, mais específicas e técnicas, mas também um local para relaxar e descontrair, aprender com leitores de qualidade, colocar a escrita em prática e a mente para raciocinar. Que venham mais 100 por aí!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Bin Laden e os anti-americanos


Com a morte de Osama Bin Laden o mundo se tornou melhor, nada mudou, ou as coisas se tornaram piores? Pareceria um enorme contrassenso em qualquer situação que não envolvesse os EUA, mas muita gente prefere a terceira opção de resposta, mesmo que para a maioria delas, na verdadeira pior das hipóteses, nada tenha mudado, nem vá mudar.
O anti-americanismo deitou raízes em grande multiplicidade de regiões além do próprio Oriente Médio, no qual as razões desse sentimento podem ser discutidas historicamente. Em outras paragens, não passa de ideologia  pueril de esquerda, fomentada muitas vezes por gente que aproveita as benécies do capitalismo e por jovens rebeldes sem-causa que jamais trocariam um Big Mac por um lanche vegano ou música pop descartável por um Albinoni ou por um Scriabin. Também nesse caso, poderia se arriscar uma interpretação histórica, afinal, tudo é história, mas não vou me ater a isso, uma vez que as reflexões acerca do tema existem, podem e devem ser buscadas. Meu intento será tão somente colocar em discussão certas opiniões e tendências com as quais tomei contato - fosse pessoalmente, fosse por meio de leituras e entrevistas na TV - nesses aproximados dez dias que se sucederam à morte do terrrorista mais procurado de todos os tempos.
Assim que a notícia da morte de Bin Laden passou a correr o planeta, logo de imediato, alguns que se orgulham de um tipo de ceticismo acrítico, encerrado em si mesmo e, logicamente, também provido de anti-americanismo, se manifestaram com grau de indignação bem mais acentuado do que deveria sugerir sua opinião blasé, afirmando categoricamente que tudo não passou de uma farsa, algo genuinamente hollywoodiano, montado pelo poder norteamericano a fim de, uma vez mais, transmitir a ideia de que os EUA mantêm pleno domínio sobre a Terra - quiçá, mais ainda do que sobre a Terra...: passados 41 anos, ainda há gente estúpida o suficiente, crente em qualquer teoria conspiratória, exceto em evidências, disposta a afirmar que as missões Apollo também foram farsas. É certo que no caso de Bin Laden estamos a tratar de um assunto menos passível de especulações, em relação ao qual o argumento de que interessaria à reeleição de Barack Obama dar Bin Laden como morto, tem lá algum fundamento. Ninguém irá negar que o presidente norteamericano se beneficia enormemente com o fato e que poderá explorá-lo à vontade no intuito de permanecer na Casa Branca por mais 4 anos, contudo, Obama precisa de bem mais do que a cabeça do terrorista para se reeleger, logo ele, o presidente mais cobrado pela opinião pública nos EUA desde Richard Nixon. Fora isso, forjar a morte de Bin Laden sem que essa tivesse realmente ocorrido, jogaria contra os interesses norte-americanos em duas frentes. Primeiro, porque quem mais tiraria vantagem da teoria do falso-defunto seria o próprio Bin Laden, dado que seria mais fácil continuar escondido e comandando ações com uma parte das pessoas, pelo menos, acreditando que ele estivesse morto. Segundo que, estando vivo, mais cedo ou mais tarde Bin Laden daria sinal de vida, desmascarando toda a “farsa”, o que então faria Obama sofrer um achincalho moral e uma descrença sem precedentes. Só se o presidente dos EUA fosse um total idiota iria escolher passar por um risco desses. Caso se tratasse de George W. Bush, eu acreditaria nessa tese, mas sendo Obama, definitivamente, estamos diante de mais uma sandice conspiratória antiamericana.
O ceticismo tolo já começa a esmorecer após os poucos, mas evidentes sinais de que a operação que deu fim a Bin Laden foi de fato empreendida com todo sucesso. Restando apenas aos mais bobos entre os bobos continuar sustentando posições conspiratórias, o anti-americanismo não deixa de mostrar seu rosto por meio dos ditos “especialistas” pondo-se a debater a legalidade ou não da ação norte-americana. O tom não varia, isto é, segundo os próceres do antiamericanismo, a ação foi ilegal e unilateral, configurando uma execução a sangue frio - segundo o próprio serviço secreto dos EUA, Bin Laden estava desarmado - motivada por vingança. Precisa ser “especialista” para despejar tais platitudes? Evidentemente, é necessário pensar de modo menos ideológico se o objetivo for chegar a alguma conclusão livre de reducionismos. Segundo a tese da ação ilegal, apoiada em convenções internacionais, qualquer criminoso deve ser julgado em tribunal, tendo direito à defesa. OK, não há como ir contra isso em essência, mas será minimamente racional supor que Bin Laden pudesse ser julgado tal qual se faz com um criminoso comum? Bin Laden não era um criminoso comum, era um terrorista internacional de altíssima periculosidade, responsável por ceifar milhares de vidas, inclusive de muçulmanos, em inúmeros atentados, caracterizados, como qualquer ação de cunho terrorista, pelo elemento furtivo e pelo objetivo de atacar civis. Os custos e as pressões envolvidos num julgamento de Bin Laden seriam imensuráveis e tudo terminaria inexoravelmente na condenação à morte do terrorista. Não há como levantar outra hipótese diante do teor dos crimes perpetrados pelo líder da Al Qaeda. Alguém, aliás, poderia supor desfecho diverso considerando as vítimas do 11 de setembro? Isso para não mencionar os outros atentados assumidos por Bin Laden: Quênia, Tanzânia, Bali, Madrid, Londres...
Ainda na esteira dos argumentos contra a ação no Paquistão, afirmou-se que faltou transparência por parte do governo norte-americano. É surreal, mas há analistas de renome capazes de defender tal ideia. Colocações desse tipo não mereceriam nem mesmo ser lembradas, no entanto, o faço a título de humor. Claro, os EUA deveriam expor em detalhes todos os passos de uma operação “secreta” para capturar o sujeito mais procurado do universo! Deveriam bater cara e dar tempo para Bin Laden se esconder..., vamos lá, mocinhos maus contra terroristas bonzinhos que sempre agiram na intenção de reparar os males causados pelo império norteamericano! Só pode ser piada!
De minha parte, não posso deixar de pensar que o mundo ficou melhor na ausência de um terrorista do calibre de Bin Laden, pois terroristas, por definição, são meus inimigos. Mais do que obviamente, a guerra ao terror não termina com o acontecimento em questão, mas a força simbólica da eliminação do líder da Al Qaeda é inconteste, assim como, em certa medida, contribui para enfraquecer os jihadistas. Vale sempre frisar que o combate ao terrorismo não é só dos EUA, como muitos desavisados parecem acreditar, mas de qualquer governo e de qualquer indivíduo comprometido com a liberdade. É uma guerra travada de parte à parte, pelo menos enquanto houver aqueles que se opõem de modo radical e recheado de ódio a valores ocidentais, cultivados inclusive por quem, no próprio Ocidente, “acha legal” e intelectualmente sofisticado ser anti-americano, como se esses valores ocidentais não fossem greco-romanos, medievais ou iluministas. A guerra é contra o terrorismo, assim como a guerra contra o crime, contra a delinquência, contra a intolerância, contra o ódio, jamais uma guerra de civilizações, como no mito huntingtoniano que vê as culturas impenetráveis umas às outras, como blocos estanques incapazes de se relacionar e estabelecer trocas.
Não desprezo o fato de que os EUA cometeram e cometem erros terríveis em sua política internacional, sobretudo quando o país não se esforça, juntamente com Israel, também ele pródigo em vários equívocos, no sentido de uma solução racional e dialogada para a questão Palestina, infelizmente mais distante de ser alcançada a cada erro, mas isso não é incompatível, muito pelo contrário, com a confiança de que irá ser melhor para os próprios muçulmanos se sujeitos como Bin Laden deixarem cada vez mais de estar associados com o Islã e com a cultura que o acompanha.
Igualmente, não posso deixar de condenar veementemente os horrores de Abu Ghraib e de Guantánamo, mácula indelével que só depõe contra o ideal da liberdade, porém, não caio nas críticas fora de foco que confundem governos, cultura, sociedade e indivíduos e que desaprovam tudo que é yankee, só por ser yankee. Atirar para onde estiver virado faz a própria crítica se tornar estéril, levando à atitude infantilóide do "eu odeio os Estados Unidos". Quanto a esses anti-americanos, fiquem sossegados, pois vosso papo “intelectual”, regado a cerveja, barba e marxismo estará mais garantido quanto menos terroristas existirem, assim como o Big Mac dos jovens “politizados”, filhos dessa ideologia extemporânea.