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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Comissão da Hipocrisia


A tal Comissão da Verdade teve sua instauração anunciada pelo governo federal e causou grande barulho perante boa parte da sociedade. A justificativa que mais enaltece a necessidade da Comissão bate na tecla do direito à memória e da consolidação da democracia no Brasil. Sinto informar aos desavisados - e estes são tantos! -, mas não passa de lugar comum do discurso, balela das mais hipócritas.
No que tange à questão da memória, ainda que a atuação da Comissão possa resgatá-la em alguma medida - e cabe salientar que a modificação da proposta inicial que contemplava somente a apuração dos crimes cometidos pelos militares, escamoteando as ações, também elas totalmente criminosas, dos revolucionários esquerdistas, foi de extrema importância -, é algo que a pesquisa histórica independente poderia realizar com com competência igual ou superior, caso fosse mais incentivada no país e se houvesse melhor estrutura oferecida aos historiadores.
Soa estranha a suposta tentativa de resgate da memória utilizada como retórica em um país que sabidamente não guarda lugar de respeito e de destaque a tudo aquilo que tem capacidade de fazer o passado reverberar. Inúmeros monumentos públicos brasileiros sofrem com o abandono completo e são diariamente alvos do vandalismo; uma quantidade incontável de registros históricos e arqueológicos nem de longe dispensam a atenção e o cuidado devidos, zelados, quando minimamente possível, no mais das vezes graças ao improviso e à iniciativa individuais; arquivos oficiais sobrevivem com pouca verba, carentes de tecnologia, infraestrutura e alocados em instalações precárias. Onde está o respeito pela memória nestas situações recorrentes, que abrangem recortes históricos tão mais extensos do que o escopo da Comissão?!
Quando se fala na ação da Comissão como contributo da consolidação democrática, a estupidez se revela ainda pior. Apenas o analfabetismo político pode levar alguém a crer que um grupo ínfimo de pessoas designado pelo governo seja capaz de promover alicerces mais sólidos para a democracia.
Democracia que funciona bem é sinônimo de cultura democrática e cultura democrática é algo que só pode ser gestado na própria sociedade ao longo do tempo. Democracia de fato se faz com o cidadão inserido politicamente, no cotidiano e na comunidade, em debate permanente com outros cidadãos, com as instituições e órgãos do governo. Em um país no qual Aristóteles, Tocqueville ou Bobbio são meros desconhecidos, é difícil supor que se esteja perto de alguma consolidação democrática. Em uma nação muito mais de súditos que se deixam levar pelo canto de sereia do populismo do que de cidadãos cônscios de deveres e de direitos, democracia consolidada ainda não passou de miragem distante. Perante uma população que concedeu o poder à corja petista mais duas vezes após o escândalo do Mensalão e no qual a corrupção corre solta - e depara-se aqui com uma constatação que não por acaso também tem a ver com (falta) de memória -, a democracia não é um valor tido em boa conta. Em um Brasil de universidades assoladas por visões de mundo falhas e aberrantes, com professores e alunos que ainda se prestam a crer nos marxismos e foucaultianismos da vida, a democracia é vista como uma "manipulação burguesa". 
É correto afirmar que a atuação da Comissão pode dar voz aos que foram perseguidos pela ditadura militar, e isso seria um elemento de democracia, mas já se sabe o que pensavam os opositores do regime, uns para o bem, outros, aqueles guerrilheiros que só desejavam a derrubada de uma ditadura para implantar a de um tipo diverso, mas igualmente ditatorial no lugar, para o mal. E depois de quase trinta anos do fim do regime militar e do início da imperfeita democracia brasileira, se existe um direito que todo brasileiro possui é o de defender qualquer credo político. É preciso uma Comissão da Verdade para resguardar tal direito?
À guisa de encerramento e trocando em miúdos, a Comissão da Hipocrisia não é nada além do já conhecido histrionismo autoindulgente do governo federal e de um joguete ideológico da velha esquerda, aquela que não tem moral nenhuma para falar em democracia. Em um país cujo governo discursa a favor da democracia e dos direitos dos oprimidos ao mesmo tempo que oferece asilo político a um terrorista assassino do porte de Cesare Battisti, a hipocrisia assalta a verdade. Resultado prático: consumo de verba pública. É a cara do Brasil!

terça-feira, 15 de maio de 2012

O historiador pedante


O intelectual é aquele que deve gerar e discutir o conhecimento para colocá-lo a serviço da sociedade. Está é uma apreciação simples e óbvia, mas frequentemente esquecida por muitos dos ditos intelectuais, especialmente pelos historiadores, que parecem ter tomado o primeiro lugar dos sociólogos na escala do pedantismo. Por que isso acontece? É difícil responder com precisão, mas pode-se arriscar algumas hipóteses.
Antes de mais nada, e nisso o perigo é tentador para todos os cientistas sociais, em nações subdesenvolvidas, nas quais boa parte de seus habitantes ainda sofre do complexo de colonizado, paira a ideia de que somente o pensador dedicado às Humanidades é capaz de construir uma visão de mundo e de identificar os problemas de fundo que afligem as sociedades. O erro é a crença segundo a qual todos os outros ramos do saber sem ser o das Humanas não passam de adornos secundários sem maior influência sobre o conhecimento, quase sempre "contaminados por alguma concepção alienada e burguesa". Como afirmava o saudoso Daniel Piza, no Brasil, por exemplo, um biólogo ou um físico não são considerados intelectuais. Se tomarmos a noção correta das coisas, no máximo, deveríamos considerar que esse "privilégio" com relação ao trato dos problemas de fundo é da alçada dos filósofos, e esses, por dever intelectual e moral, talvez mais do que todos os outros, jamais podem se deixar dominar por ideologizações rasteiras.
A questão ideológica está por trás de grande parte do pedantismo dos historiadores e, sendo assim, merece ser analisada com cuidado. É fato que a maioria dos historiadores adota o marxismo como referência e, necessariamente, quem se coloca como "historiador marxista" é um manipulador da história, alguém que a utiliza na tentativa vã e desonesta de acomodar o passar do tempo e as atividades humanas a um molde pré-fabricado supostamente comprobatório das etapas da dialética materialista. Nestes termos, qualquer elemento que vá contra o marxismo é meramente descartado como patológico, não à toa, o marxismo ser o pai de tantos autoritarismos. O historiador marxista, por mais que possa ser dotado de alguma sofisticação, em última análise, é sempre um exemplificador barato da teoria, enquanto o papel do historiador sempre deve ser o de teorizar exemplos.
O estatuto epistemológico mais particular da História - com letra maiúscula sempre que pensada como ramo do conhecimento - é a consideração das temporalidades. Os acontecimentos humanos se sucedem no continuum do tempo cronológico, contudo, as derivações profundas e as motivações dos homens se situam em temporalidades não-lineares, ou seja, as conjunturas e as estruturas históricas são devidas a um entrelaçamento complexo e difuso entre passado e presente. Tal apreciação é um importante marco teórico da História que deve conduzir a boa pesquisa histórica, mas nunca algo a ser tomado de forma a conferir privilégio por parte do historiador na observação do mundo. Invariavelmente, quando o domínio das temporalidades é julgado como recurso de análise privilegiado que simplesmente por ser uma ferramenta do historiador o coloca acima dos outros intelectuais, comete-se o tolo equívoco de substituir história por política retrospectiva, uma vez mais, ideologização ao invés de ciência. A História é uma forma de conhecimento, não uma mística superior reservada a clarividentes que detêm a chave dos mistérios.
Outra deturpação do conhecimento histórico chegou por meio do já decaído pensamento pós-moderno relativista. Nesse caso, os arautos de tal aberração se deram ao cúmulo de acreditar que a história absolveu os homens da observância de princípios morais. A única regra válida para a existência humana seria então um historicismo levado às últimas consequências, criador de tribunais históricos sazonais: o que vale para uma dada época, não pode valer para outra qualquer. O erro grosseiro do relativismo histórico é enxergar na história somente a mudança e daí querer transformá-la em filosofia. Mas que filosofia pode haver se dela estão exclusos todos os aspectos universais e atemporais da moral? Qual liberdade pode ser conservada se não for amparada por nenhum tipo de responsabilidade? O relativismo não produz conhecimento histórico, menos ainda conhecimento filosófico, mas apenas o caos na mente de seus adeptos. É curioso e contraditório notar que para os relativistas a história esteja apta a castrar a moral, mas nunca levada em conta na análise de padrões de moralidade que tantas vezes foram descartados e provocaram a ocorrência de distúrbios trágicos.
A história tida como experiência humana e a História conhecimento, que daquela retira seus extratos analíticos, compõem um conjunto rico e indispensável que, por sua vez, é parte do conhecimento geral que os homens são capazes de criar, discutir e reinterpretar. Não é preciso nada mais do que a capacidade de conhecer, bem como da consideração e do respeito que podem ser captados graças ao próprio conhecimento, para que o homem, em comunhão com todas as outras formas de vida que com ele coabitam este mundo, possa tecer um rico paneau de sua experiência, mas para tanto, é estritamente necessário que os jovens historiadores, os intelectuais em geral e todas as outras pessoas, se afastem e se resguardem das ideologizações e dos pedantismos.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Falácia cultural


A mania de tentar encobrir a realidade usando o artifício da mentalidade tolamente festiva é um dos piores males do brasileiro. No último final de semana foi realizada em São Paulo a VIII Virada Cultural, evento que tem servido como uma luva para representar a tal mania.
Segundo a Polícia Militar e as autoridades, a Virada foi um grande sucesso, mesmo sabendo-se das dificuldades que o público encontrou para participar, dos tumultos e da violência, que causou inclusive uma morte. A organização do evento afirmou que o falecimento da jovem poderia ter ocorrido em qualquer circunstância e que nada teve a ver com o evento em si. OK, mas o episódio não se sucedeu justamente durante a Virada?! Tapar o sol com a peneira é típico da tolice festiva. Trouxas que se deixam enganar também...
Em cidades desenvolvidas espalhadas mundo afora, os shows de rua acontecem diária e espontaneamente, estão inseridos no tecido urbano e compõem o vasto circuito que convida tanto o cidadão como o turista a frequentarem a área central dessas cidades. Não existe a necessidade de organizar e propagandear essas manifestações culturais, menos ainda de se utilizar delas na tentativa de pintar um quadro falsamente benéfico dos locais nos quais ocorrem. São manifestações inerentes ao desenvolvimento cultural de países desenvolvidos, não enxertos artificiais com objetivos políticos. Basta um pouco de atenção para perceber a enorme diferença.
São Paulo sofre com inúmeros problemas graves e solucioná-los passa necessariamente pela presença de uma administração inteligente e por uma correta concepção de urbanização, aspectos distantes das políticas promovidas por aqueles que têm comandado a maior cidade do Brasil. Antes de pensar em Virada Cultural, evento anual e isolado de final de semana, seria preciso tornar a metrópole um lugar que possibilitasse cotidianamente melhor qualidade de vida a seus habitantes, algo que exige método, continuidade, visão de futuro, prodigalidade e temperança. Esse estadismo, evidentemente, não é observado no sr. Gilberto Kassab nem nos que ultimamente estavam aí antes dele ou nos que provavelmente ainda irão ocupar o cargo de prefeito.
Não nego que o Centro de São Paulo possui certo número de atrações (poderia, caso houvesse uma boa administração, não só aumentar a quantidade de atrações, mas principalmente tornar atrativos muitos  elementos que hoje se encontram esquecidos e abandonados), porém, infelizmente, não é um local convidativo, visto que não se conecta harmoniosamente aos circuitos que tecem a rede urbana da cidade, ela própria bastante deficiente. No geral, ao contrário disso, o Centro sofre com o abandono e com a carência de urbanização nos moldes indicados para o século XXI, e ninguém deve pensar que um evento efêmero, mal organizado e de qualidade cultural no mínimo discutível seja capaz de encobrir aquilo que já deveria ter sido resolvido pelo poder público há pelo menos três décadas.
A Virada Cultural pode continuar sendo realizada sem nenhum problema, desde que a organização e a segurança melhorem, mas deve ser tratada tão somente como um conjunto de shows de rua a se passar em determinado final de semana, não com o alarido dos políticos e da imprensa adesista, que travestem o evento com uma roupagem criativa e benéfica que ele nem de longe possui.
Em um dia, ainda distante, se o desenvolvimento chegar a São Paulo, o prefeito não estará preocupado em dar entrevistas enaltecendo a (des)organização de um evento cultural, já que manifestações do tipo se farão naturalmente por liberalidade dos cidadãos, tampouco será autor de leis que sugam dinheiro do contribuinte, que tornam o trânsito caótico até aos domingos, ou que impedem as pessoas de dormirem tranquilamente. Será apenas mais um simples cidadão a desfrutar de qualidade de vida, como todos deveriam desejar e ajudar a fazer por onde.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Alimentando-se bem (COCADA VEGAN DE COLHER)


Quantas e quantas vezes já não me deparei com pessoas ignorantes que mesmo vivendo em plena era da informação ainda acreditam que a alimentação vegetariana se restringe a folhas? Aqui mesmo neste blog houve um ou outro comentário com esse teor, os quais limei sem piedade, dado que não tenho obrigação de manter a paciência com sujeitos possuídos por tal imbecilidade.
Uma boa maneira de responder indiretamente aos desavisados é dar exemplos indicando que prescindir de cadáveres na alimentação abre um vasto leque de possibilidades alimentares, bem mais saudáveis e variadas do que está ao alcance limitado, sem imaginação e nefasto do consumo de carnes.
Em outra ocasião, num fórum de discussões, um debatedor chegou a afirmar ser impossível fazer doces sem uso de manteiga e ovos. Não era a questão da carne que estava em jogo, mas do mesmo jeito, o cidadão insistia em sustentar um ledo engano, ... e se intitulava doceiro!
Para pulverizar a falta de conhecimento e os falsos mitos, aí vai a receita de cocada vegan de colher da minha sogra, D. Myrna.

INGREDIENTES

200 gramas de coco ralado
1 vidro de leite de coco (opcional)
1 copo de leite (de soja, obviamente)
1 lata de leite condensado (de SOJA, entendeu?!)
1 copo de açúcar

MODO DE PREPARO

Em uma panela grande, misture todos os ingredientes e leve ao fogo. Mexa. Assim que começar a ferver, baixe o fogo e dê mais algumas mexidas de vez em quando. Estará pronta a cocada tão logo comece a soltar da panela. Deixe esfriar e, se não for servir de imediato, leve à geladeira.

Pronto, sem dificuldade alguma, em cerca de 40 minutos e gastando somente algo em torno de R$ 20, tem-se várias porções de um doce vegan.